Em que se pensa quando se pensa no outro? Num outro corpo? De que matéria é  constituída a sensação de um encontro? 
Explorar o corpo como um sítio de potencial, processo e conexão leva-nos até ao  precipício dos sentidos, ao desabamento das suas fronteiras. Quando nos tocamos não  é só o tacto que é activado; todo o nosso campo sensorial recebe estímulos dos que  nos rodeiam, sobre a forma como nos rodeiam. Mas qual é a matéria constituinte  desse encontro?  
Sounding Bodies é um exercício de escuta e contemplação sobre o som do corpo e a criação de intimidade entre corpos, uma performance que habita, simultaneamente, um espaço performático, uma paisagem sonora e uma instalação plástica.
Para este trabalho visitámos uma câmera anecóica e construímos uma  paisagem sonora de sons criados a partir do corpo. Esta paisagem é simultaneamente  matéria e veículo onde viajamos, performers e público, questionando o que estamos a ouvir versus o que é visível. 
Convidamos quem nos visita a deambular pelo espaço, a tocar nas peças que compõem a instalação e a usar as esculturas de espuma como assentos ou encostos. Toda a instalação é um convite ao toque.
What do we think about when we think about another? About another body? How is the feeling of such an encounter constituted within us?
Exploring the body as a site of potential, process and connection takes us to the precipice of the senses, to the collapse of its borders. After all, when we touch it is not just that realm that is activated; our entire sensory field receives stimuli from those around us and the way they surround us. But what is the constituent matter of this encounter? 
Sounding Bodies is both an installation and performative investigation into sound as a vehicle for intimacy between human bodies; a proposal for deep listening and contemplation.
For the creation of this public work we visited the anechoic chamber at Instituto Superior Técnico and created a database of bodily sounds, both of bodies on their own as well as together. This soundscape is both matter and vessel through which we travel together as performers and audience, questioning what we see and hear.
We invite the audience to walk around, touch the exhibited works and use the foam sculptures to sit or lean on during the performance. The entire installation is an invitation to touch.
Maria Inês Roque (Viana do Castelo, 1990) é criadora e intérprete. Mestre em Artes
Cénicas (FCSH-NOVA), o seu trabalho parte do que significa ter e ser um corpo, a
experiência sensorial através do mesmo, a intimidade e a transgressão a partir do
físico. Em teatro trabalhou com Mónica Calle (Ensaio para uma Cartografia e Carta),
João Garcia Miguel (Silent City), Nova Companhia (douchebags). Em 2021 produziu e
apresentou como se um nervo cosesse todas as partes (Estufa Fria).
Miguel Ferrão Lopes (Castelo Branco, 1988) é licenciado em Cultura Visual e
Fotografia (IADE) e frequentou o PACAP 3 (Fórum Dança), com curadoria de Vânia
Rovisco. Como criador apresentou as performances We Might Look for New Lovers
(2019), Eres victima de tu proprio invento: una cercanía a nuestra intimidad
(2021), El Cuerpo Consumido Por Su Propia Naturaleza: Os Actos Finais (2021) e O
Florescimento Prodigioso da Raiva
(All Tomorrow’s Parties, 2022). Como intérprete
trabalhou com Ana Borralho e João Galante (Sexy M/F), André Uerba (Burn Time) e
Mónica Calle (O Escuro que te Ilumina e só eu tenho a chave desta parada
selvagem).
Nuno Nolasco (Lisboa, 1987) é licenciado em Teatro e Mestre em Teatro –
Especialização em Encenação (ESTC).
Como criador/co-criador desenvolveu os projectos We Are Not Penelope - Sobre a
fidelidade, MEMOIR + 1 — Aquele Que Se Lembra (2018), V (I Gesto) (2020), LUNA
PARK (2022). Como actor trabalhou com Angélica Liddell (The Scarlet Letter), Romeo
Castellucci (La Passione), Ricardo Neves-Neves (A Menina do Mar), John Romão e
Sílvia Costa (As Tentações de Santo Antão), entre outros.
Sara Afonso Sternberg (Lisboa, 2000) é formada em Artes Visuais pela University of
the Arts, London College of Communication. Acredita que a arte detém o poder para
aprofundar questões político-sociais de uma forma distinta e inalcançável a outras
disciplinas, sendo para tal necessário corromper com as noções tradicionais da
relação entre espectador/artista. O uso de som, instalação, fotografia e vídeo têm
sido os métodos mais utilizados no seu trabalho.
Miguel Tavares (Setúbal, 1992) completou os estudos no Ar.Co (curso Cinema/Imagem
em Movimento e Curso Avançado de Artes Plásticas). Actualmente é professor no
departamento de Cinema da mesma escola.
O trabalho em arte sonora sempre acompanhou o seu percurso, principalmente com o
projecto de apropriação e desconstrução baseada em samples, Calipso. Criou a
paisagem sonora do projecto como se um nervo cosesse todas as partes, apresentado
em Julho de 2021 na Estufa Fria de Lisboa.
Sofie Amalie Andersen (Sorgenfri, 1989) é uma artista visual dinamarquesa. A sua
prática artística engloba escultura e instalação, escrita e ilustração. 
É formada pela Malmö Art Academy (MFA, 2021), pela Oslo Art Academy (BFA, 2018), pelo
programa de estudos independente Maumaus, em Lisboa (2022) e é também licenciada
em História da Arte (Universidade de Copenhaga, 2013). Conta com exposições em
Portugal (Lisboa, Alfaia), Dinamarca (Rønnebæksholm) e Bulgária (Gallery Heerz
Tooya). Para além da sua própria prática artística, Sofie Amalie Andersen tem a
seu cargo a gestão e curadoria da galeria SOL em Nexø, Dinamarca, fundada por si
em 2019. Actualmente divide o seu tempo entre Lisboa, Copenhaga e Nexø
​​​​​​​
Míu Lapin (São Bartolomeu de Messines, 1994) é licenciada em Teatro pela Escola
Superior de Artes e Design (Caldas da Rainha) e formada em Costura, corte e
modelação pela escola Atelier Paraíso (Lisboa).
Em 2022 trabalhou como figurinista na obra Tratado da Invenção das Coisas de
Daniel Moutinho, no espaço da Karnart.
Adriana João (Almada, 1998) iniciou os seus estudos musicais em 2005 no
Conservatório de Portimão Joly Braga Santos. Frequentou a Faculdade de Belas-Artes
de Lisboa, contando com uma licenciatura em Arte Multimédia – Performance /
Instalação e pós-graduações em Arte Sonora e Arte Multimédia – Imagem em
Movimento. Tem exposto, tocado e feito residências artísticas regularmente em
Portugal e no estrangeiro. O seu trabalho transdisciplinar e intuitivo mescla-se
entre o som, a imagem em movimento, a performance, a escultura, a fotografia e a
instalação.

A partir de manipulação de tecidos é possível criar uma experiência sinestésica. 
Através destes pormenores de tecidos manipulados e com texturas e relevos que quero incorporar nos figurinos pretendo materializar o som. O som torna-se tangível, visual mas também palpável. Desta forma existe um diálogo entre o que é visto e o que é ouvido.
John Cage já tinha reflectido sobre a experiência da câmara anecoica. A qualidade inescapável do som é aqui demonstrada, quando até em isolamento total num ambiente supostamente “à prova de som” somos confrontados com o nosso próprio corpo a emitir som.
Revisitar as gravações feitas na câmara anecoica foi uma experiência muito interessante. Uma descoberta dessa escuta foi o cariz íntimo, quase de confessionário, das gravações solitárias - de uma só pessoa dentro da câmara. Para mim, parecia estar na presença de um lugar que não era suposto visitar, ao qual não deveria ter acesso; os restantes intérpretes expressaram sensações semelhantes. Tal particularidade acabou por alterar o olhar sobre a investigação; estávamos a tentar trabalhar sobre a interacção entre corpos e sobre a intimidade criada nessa relação, mas subitamente fomos confrontados com uma relação íntima tremenda num espaço onde só se encontrava uma pessoa. A partir desta nova informação começámos a repensar ainda mais os limites dos corpos. Lisa Blackman apresenta os sentidos como interfaces, não pertencentes a um invólucro em si contido mas modalidades participativas e sempre em relação entre si e com outros, humanos ou não humanos. A partir desta noção ficou assente que, neste trabalho, mesmo uma gravação solitária participa no mundo para além da mesma, sendo que a própria relação com os microfones não perde o carácter de relação por só ter um elemento humano. Inclusivé, a partir de Cage, podemos pensar que, se ouvimos som num espaço à prova do mesmo é porque há um sinal de vida - havendo um sinal de vida há, de certa forma, algum tipo de companhia.
Quando cada um estava sozinho na câmara anecoica, tendo como singular companhia os microfones que, assentes num tripé, tentavam imitar a capacidade auditiva de uma cabeça humana, a relação que se tentava criar era, de alguma forma, de uma pessoa para outra. O facto do elemento receptor ser apenas um receptáculo, sem a capacidade de agir de volta, sem qualquer reverberação - esta impossibilidade acentuada pelas características da câmara - tornava a relação desigual; havia uma falha na capacidade de afecto de um para outro. Contudo, ao sabermos que os nossos sons seriam gravados para uma posterior fruição criou-se uma ideia de afectos dessincronizados, separados no tempo e no espaço. As nossas confissões seriam ouvidas por outro corpo; por outros corpos, numa recepção o mais próxima possível da relação real. Afinal de contas, ao usarmos dois microfones podíamos inclusive decidir para que ouvido escorreria cada som. Até a natureza do som como elemento que atravessa barreiras, seja pela sua propagação na atmosfera gasosa, seja pelas vibrações que contaminam estruturas físicas auxilia a narrativa de que estes sons procuravam um receptor para além das fronteiras à sua volta. Na ausência de qualquer possibilidade da passagem do som pelas paredes da câmara, a sua gravação é a única forma da confissão não se esgotar no segundo em que o som se esgota. Passámos então a pensar nestes momentos solitários como momentos em relação desconstruída, diluída e assíncrona.
agradecimentos
CAROLINA MATIAS | CLÁUDIA MADEIRA | EDUARDO DUARTE | JELENA NOVAK | JOÃO MOURO
LAURA GAMA MARTINS | LUÍS BENTO COELHO | MARIA VLACHOU | OLGA RORIZ | PATRÍCIA PORTELA
PAULO FILIPE MONTEIRO | ROXANA IONESCO | STEPHANIE KYEK | SOFIA DINGER | THYRA DRAGSETH
ACESSO CULTURA | COMPANHIA OLGA RORIZ | FÁBRICA DAS ÁGUAS | IST | MUSICBOX | NOVA FCSH
Back to Top